sexta-feira, 16 de março de 2012

Cenário Local

A torcida do Galo tem sido bipolar na última década, certamente. Os torcedores do Galo que viveram os desastres dos últimos 10 anos sem terem visto boas campanhas e times que brigavam na parte de cima guardam certa mágoa e ressentimento do clube de uma forma diferente dos outros, que hoje me parecem mais sedados pela nostalgia do que neste vício bipolar da parte mais jovem. É compreensível.

Mas será que este efeito é simplesmente pelo Galo estar mal? Ou será que pelo Cruzeiro estar muito bem nesta última década? Aliás, o Cruzeiro está de fato tão bem assim na última década?

Galo e Cruzeiro vivem uma forma de rivalidade parecida com a que acontece entre Grêmio e Inter. Como são dois clubes grandes no estado, e apenas dois, o termo de comparação é restrito. Assim, se um dos dois vai mal, é em comparação ao outro. E isso vale também pra saber se um vai bem. No Rio Grande do Sul se fala muito em uma gangorra que quando um está mal o outro está bem. Isso se deve mais, na minha opinião, a este fator de comparação que a uma análise fria de resultados. E assim é em Minas.

Volto ao começo do texto, para que não nos percamos. A torcida do Galo era conhecida por apoiar sempre. Já até foi apelidada de "a mais argentina das torcidas". Hoje é comum ler e ouvir que assim não mais é porque a torcida "acordou" e que o "apoio incondicional" não leva a lugar algum. E pra apoiar este argumento, se desfaz do que foi o futebol nas décadas antes da atual fase mercantil do esporte. O futebol de profissionalizou ali pelos anos 30, durante o surgimento da FBF e da possibilidade de se pagar os jogadores, o que na época rachou o futebol nacional em dois grupos: os que denfendiam a permanência do amadorismo e os que insistiam em profissionalizá-lo. Sem tanto racha, o futebol brasileiro começou a se mercantilizar em 1987, com a Copa União. A partir dali, o cenário nacional passou a ter um peso muito maior do que já tinha. E aos poucos o cenário internacional foi se tornando tão importante quanto, ao ponto de hoje ser considerado mais importante que o nacional. E tudo em detrimento do cenário doméstico. O que não era assim até essa mercantilização. Essa torcida que só acompanhou este futebol de mercado é quem acredita que o tal "apoio incondicional" nunca levou o Galo "a lugar algum". Em detrimento aos tantos estaduais, que durante 50 anos foram os principais títulos disputados e por pelo menos mais 30 tão importantes quanto os demais. Assim, essa torcida cobra títulos de grande porte. O que de fato é importante. Mas que não é a causa nem da intransigência aparente da mesma torcida, nem da gangorra do futebol mineiro ter pendido por alguns dos últimos anos pro lado do Cruzeiro.

"Evoluímos". Vemos o futebol de caráter nacional. Mas tanto aqui, quanto em Porto Alegre, o que vale é o cenário local, em primeira instância. É nesta arena que o Galo vai mal. E é esta a causa de tanto sofrimento da torcida, que a tornou, como disse o próprio presidente, chata. Ainda prefiro o termo bipolar. Capaz de se empolgar com pequenas coisas e de voltar a depressão por quase nada. Mas, se o presidente diz chata, que seja chata.

O cenário local é basicamente sustentado por três pilares: clássicos, estaduais e campanhas nos demais campeonatos. Mas o que de fato isso significa?

Os clássicos são simples de se entender. Quem ganha mais, quem faz mais gols, quem causa ao adversário maior sofrimento... Desde o último campeonato mineiro em que o Atlético bateu o Cruzeiro em uma final, certamente este pilar é completamente cruzeirense.

Os estaduais podem não "valer nada", mas são capazes de derrubar treinadores e gerar crises no clube que vai mal. Por que? Pelo poder no cenário doméstico. É a comparação com o rival que faz esse estrago. Ganhar a maioria dos estaduais pode não significar que se vai bem, mas certamente piora muito as coisas pra quem os perde. Aqui, novamente, o Galo vai mal perante seu rival.

E "as campanhas nos demais campeonatos"? Significa o que? Exatamente isso. Em termos domésticos, quem vai melhor nos outros campeonatos. Em 2011, pela primeira vez nos pontos corridos, o Atlético foi melhor que o Cruzeiro. Mas a última partida (um clássico), fez isso perder a sua importância.

É aqui, nesta arena local, nestes três pilares, que o Galo tem perdido sua força maior: a torcida. A torcida do Galo não está, como pensa, cobrando pela falta de títulos. Está cobrando os títulos pra compensar o fracasso em sua rivalidade doméstica. E os títulos de grande expressão seriam sim muito bem vindos. Mas se o Galo quer voltar a ter mais torcida na faixa jovem da população que seu rival, isso passa por derrubar a soberania azul nestes pontos chaves. E os títulos maiores farão seu efeito acelerador nesta mudança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário